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O grito silencioso que vagueia na (in)consciência: valores, reflexões e a atemporalidade

Atualizado: 9 de dez. de 2020




PERDOEM-nos!!! Mulher, perdão!

Não sabemos se devemos gritar ou dizer baixinho de joelhos… Mas uma coisa é certa, antes de iniciar este artigo, devemos pedi-las perdão! Do “baixo” da nossa arrogância, nos perdoem. Perdoem a mim, a eles, a todos nós. Enfatizamos e temos como referência um fragmento do poema “Aprende”, de Cora Coralina:

Reconhece teu erro.

Mesmo que custe muito,

ao teu orgulho e vaidade.

Jamais justifique o errado.

“Fulano foi o culpado,”

Arrepender e reparar

é o caminho certo

da Paz espiritual.


Não, não começamos assim por acreditar que isso vai nos dar o direito de quem sabe sermos ouvidos, lidos e/ou interpretados. Fazemos, por entender - e mais uma vez estamos sendo arrogantes por achar que podemos - todo o mal que lhes fizemos desde o dia em que rompeu-se uma costela. E, talvez, tenhamos nos encontrado no direito de romper carne, osso, alma e coração. Perdoem por não reconhecermos, todos os dias seu protagonismo, por não nos rendermos a sua força, por menosprezarmos sua inteligência sempre tão mais pontual e eficaz que a nossa. Perdoem-nos por limitá-las e subtraí-las nas tomadas de decisão; desde as mais simples, até àquelas que têm o poder de mudar toda uma sociedade, principalmente essas.


Sim, somos indesculpáveis. Nunca houve razão para toda maldade cometida contra vocês e antes de escrever algo que as afeta diretamente, ainda que seja uma forma de denunciar todo o sentimento que lhe é contrário e toda a ação maltratante, precisamos que, mesmo não merecendo, você, Mulher, nos perdoe.


Chico Buarque em sua clássica e insinuante canção retrata a realidade atemporal que circunda as nossas relações… Década de 70, um período conturbado. Censura e tiros para todo lado. Eis que surge uma esperança, um grito de socorro, uma “pausa” na matança. Ela nasce, ou melhor, ela inaugura e renova as energias. Como toda mulher, ela é resistente. Obrigada a engolir o choro e engolir os sapos desse mundo perverso e doentio.


Ela censura a censura, mas é incriminada. Mas, o que é uma sentença para uma sociedade já condenada? É mais fácil julgar o outro e agravar a sua pena, ignorando todos os meus atos, por mais vis que sejam. Terceirizar a culpa é, aparentemente, sempre melhor… pelo menos anestesia o consciente.


Se a sociedade é prisioneira e condenada sem o devido processo legal, lutar pela liberdade é indispensável. E se julgam que o que é meu não é meu, vou distribuir para os outros, já que nada me pertence. Sendo assim, me entregarei nas cantinas, nas garagens, atrás do tanque e no mato.


O caso de Geni foi ambiguamente definido por motivos de benção e de maldição. Tal fato nos mostra que sempre existirão julgamentos sobre o que você faz, reafirmando que a base desse júri dependerá do interesse, por parte de quem julga.


Quando o “dar pra qualquer um” se relacionava apenas a projeção que os “juízes” faziam ao ver em Geni o que temiam que outros enxergassem neles, esse ato revelava a maldição. Porém, quando a única coisa que poderia salvá-los era o “dar pra qualquer um”, converteu-se a sentença em uma benção. Ou seja, pelo mesmo motivo o qual te amaldiçoam hoje, irão te abençoar amanhã. A argumentação que te condena na presente data, poderá ser o futuro habbeas corpus e o juízo opressor e contundente, poderá ser revertido em status de poder.


Ao analisar a perspectiva apresentada, em que ou a quem tem-se dado crédito quando o assunto é você? Quais as definições sobre você mesma(o) tem-se levado em conta? Por quantas vezes deixou-se de acreditar em opiniões que chegam completamente destituídas de amor e/ou empatia de quem, pelo menos naquele momento, não se importava com você? O quanto você se deixa afetar por palavras e gestos, relacionadas a suas ações, de quem não tinha nenhum interesse de auxílio ou prospecção em relação a ti e ao seu bem?


Atualmente temos visto, com certa frequência, inúmeras hastags espalhadas pelos meios de comunicação. Uma das mais comuns é a “#SomosTodos”. #SomosTodos alguma coisa, #SomosTodos alguém. Mas, será que realmente somos? Num universo de pessoas, prazeres, objetivos, hábitos e condutas tão distintos… Seria essa uma forma de exercitar ou demonstrar empatia? Talvez seja um tanto quanto contraditório em meio tantas diferenças ver/ouvir as pessoas afirmarem que lutam por igualdade. Igualdade ou equidade? Luta-se por direitos, mas ao mesmo tempo profetiza-se um discursos em que as diferenças “não devem” ser valorizadas.


Lhes convidamos a algumas reflexões: será que os trechos das belas citações, que vemos espalhadas pelas redes sociais retratam em sua essência a vida e a trajetória de determinadas autoras? Será que conhecemos a história e analisamos o conteúdo implícito? Será que quando somos atacados devemos retribuir na mesma forma e intensidade? Talvez aquela máxima de que cada um oferece o que tem, independente do contexto, seja muito bem representada por Clarice Lispector.


Ó Geni… O teu DNA se perpetua entre nós. Na indefinida distinção interpretativa entre a mocinha e vilã. Ora absolvida, e comumente, por vezes condenada. E como disse Nina Simone: “Eu podia cantar para ajudar meu povo e isso se tornou o principal esteio da minha vida. Nem o piano clássico, nem a música clássica, nem mesmo a música popular, mas a música dos direitos civis.”


O mais intrigante é que iniciamos o dia 08 de março ouvindo: “Dizem que a mulher é um sexo frágil… Mas que mentira absurda!” O dia passa, flores são dadas, mensagens são feitas e abraços são concedidos. Porém, Aaaah … O porém! Sempre existe essa conjunção (até mesmo a carnal). Porém, temos que falar do dia 09 de março, ou do dia 07 de março, ou melhor, de todos os outros dias do ano. De todas as nossas ações e omissões frente as tratativas ao gênero feminino.


No dia 08 de março, Geni receberia flores, chocolates, uma pedrada, um abraço ou uma cusparada? Nossa obrigação, como cidadãos, é fortalecer e disseminar o respeito. Devemos impedir que a pedra seja atirada, evitar que seja expelido pela boca qualquer líquido corrosivo à moral e à estética feminina. Saibamos expelir e disseminar o amor! Que todo dia, seja 08 de março. Que todo dia 08 de março possamos abraçar e amparar todas as Genis, todas as Marias, todas as Penhas, todas as Anas, todas as Sônias, todas as Veras e Evas.


Se a Valeska quer ser popuzada, ela pode. E se pode, é porque a Geni se transvestiu, inconscientemente, de escudo. Quantas Genis vemos todos os dias? Quantas Elzas? Ninguém, absolutamente ninguém, sairá impune ao tacar pedra na Geni. Porque as inúmeras Genis conseguiram, diante de agressões diárias, queimaduras profundas, ataques constantes e incessantes, que decretassem a Lei 11.340 (Lei Maria da Penha).


Segue a resistência! Não esquecer dos esquecidos, faz-se necessário. Se for para enfrentar esse mundo de cão, que seja para ser representante dos infortunados, que seja para ser marcado na história e registrado na memória. Falar, todos falarão… até mesmo em um cenário de censura. Falar, todos falarão... ora por sua inércia, outrora por suas ações. Por que seria Geni a responsável por (des)agradar a todos!?


Até quando a nossa postura ilibada sustentará o “fakenismo” da sociedade? Atirar a pedra na Geni seria a condicionante para absolvição da nossa culpa? Mas, se a Geni é vista em alguns momentos como um poço de bondade poderia ser comparada a algo tão insano como “O POÇO”? Ora, seria Geni a sensitiva que previa o futuro ou será não há futuro? O que sabemos é que nada mudou. O tempo se tornou atemporal, fazendo como que sejamos apenas ponteiros sem marcações.

Somos incontrolavelmente curiosos para saber: quem é a Geni? Quem é essa sociedade? Entretanto, a real e mais importante pergunta é: quem somos nós?

Diante de tudo isso, não podemos ser omissos. Eis de te apoiar, e caso queiram queimar mais sutiãs, a nossa primeira ação será: de quantos isqueiros vocês precisam? É o momento do “basta”. Chega de pedradas e fogueiras. Chega de tanques e vasilhas. Chega de domesticação. Vocês nasceram para voar.

Perdoa-nos por inferir que a culpa foi somente da Eva ao comer a maçã. Essa culpabilização de gêneros é que adoece a humanidade. Que sejamos travestidos de coragem e disposição para romper as barreiras e os paradigmas do preconceito!

O sábio Raul nos apresentou em uma de suas canções a seguinte mensagem: “Segura a minha mão, quando ela fraquejar, e não deixe a solidão me assustar, oh! minhã mãe, nossa mãe, e mata a minha fome, na glória do seu nome. Oh! minha mãe, nossa mãe, e mata a minha fome na letra do seu nome”. Devido ao teor efêmero da vida, devemos (re)lembrar que nunca somos, estamos. E, indiferente do gênero: GeniALL.

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